Eu vi o filme e confesso que fui pelo George Clooney, um homem que acho bonito e interessante. Na verdade, fui para relaxar.
Vi o filme e achei-o super real. Retrata muito bem a realidade de hoje, a vida ilusória de uma vida passada fora de casa, a viajar, conhecendo meio mundo, coleccionando milhas e bónus por ter acumulado distâncias medidas em milhas e pouco mais. É a quantificação,como objectivo máximo, cego, em detrimento da qualificação, dos objectivos com propósito.
O filme retrata uma vida vivida "sem bagagem", uma vida cómoda, tranquila, onde tudo pode ser dispensado em nome da comodidade e do pragmatismo da vida moderna.
O filme fala-nos de uma vida recheada de cartões magnéticos que nos dão acesso a tantos lugares e sensações de sonho, sensações que achamos superiores a uma vida pacata vivida na nossa terrinha.
A verdade é que quando se olha para dentro, porque chega um momento em que se olha para dentro, depois de ter provado as sensações mirabolantes que as viagens pelo mundo nos proporcionam, apercebemo-nos que experimentamos muito sem nunca ter realmente vivido, sem nunca ter criado raízes, sem nunca ter criado as condições necessárias para que uma relação fosse real, sentida, de carne e osso, com tudo de imperfeito que ela possa comportar.
Olhamo-nos ao espelho e apercebemo-nos que conhecemos tanto mas não somos nada, ou pouco. Subitamente, a nossa experiência cabe toda numa mão, e pouco tem para oferecer: fica mais leve que uma mochila.
Somos muito sem sormos nada. Percorremos o mundo, recheamos a nossa vida com a vida dos outros, as nossas memórias são feitas de pedaços soltos que não formam uma imagem coesa, com sentido. Somos um dos muitos retalhos da manta universal.
Ao viajarmos, alargamos os nossos horizontes, aprendemos a dar-nos valor, adquirimos "hábitos" que nos valorizam, que nos dão um conhecimento da realidade mais vasto, que nos permitem ver mais longe, que nos permitem desfrutar prazeres que não seriam possíveis em casa, mas no fim de contas, será que fizemos a diferença? Onde está o nosso contributo real à vida? Onde está a nossa marca? Onde? Na vida de quem?
Chega um momento em que nos apercebemos que estivemos de passagem, na vida dos outros e na nossa. Multiplicamos encontros, mas nem sempre ficamos mais ricos. Muitas vezes sim, mas muitas vezes não.
Ao viajar, descobrimos também a fragilidade emocional do ser humano, porventura a nossa fragilidade, a angústia da solidão que acaba por chegar.
Confesso que vi o filme, e fiquei com medo: com medo de que a ilusão da descoberta de outros mundos me afaste do meu mundo, medo de ser refém de um mundo sem definição, sem textura, sem cor, sem densidade humana.
Para mim, conhecer o mundo e, não pertencer a sítio algum, é a verdadeira contradicção da riqueza e profundidade humana, sem marcos.
Conhecer o mundo, não ter amarras, conhecer gente nova, não ter responsabilidades para com terceiros é algo de muito gratificante, mas não poderá nunca ser um objectivo de vida, para todo o sempre. Não acredito que alguém seja feliz assim. Não acredito mesmo. Todos nós precisamos de ter uma cidade, uma casa, uma família (boa ou má), amigos (bons ou maus) que digam, só por existirem, quem nós somos.
É (muito) bom poder partir, mas ainda é (muito) melhor poder regressar, sabendo que pertencemos a algum lugar e que, algures, alguém conhece-nos melhor que ninguém.
Mas este filme também toca um tema bem, mas muito real e actual: o desemprego...
ResponderEliminarÉ verdade...fala do desemprego e da volatilidade dos empregos. Essa é outra realidade bem real do dia a dia. Dureza..É verdade, não comentei essa parte.
ResponderEliminarBeijos Lola