Esta coisa da maternidade tem muito que se lhe diga.
Sempre desejei ser mãe, e já houve fases da minha vida em que me desesperei por não ser mãe. Achava que não tinha sido escolhida, que não tinha tido sorte, mas hoje apercebo-me de que a maternidade, mais do que um "chamamento", é encarada como sendo "aquela" compensação afectiva que nos falta na vida.
Evidente que ser mãe deve ser a melhor coisa deste mundo (ou uma delas, vá) e ainda não perdi a esperança, mas confesso que tenho algumas reservas a este respeito e passo a explicar porquê.
Antes de termos um filho, morremos de amores por "Aquela" pessoa, aquela que, à partida, será a nossa vítima para procriar (gosto tanto de falar assim, porque há mulheres que pensam mesmo assim, sendo muito realista) e depois de engravidar, esse amor desaparece, assim do nada como se fosse engolido pela semente que cresce e habita em nós.
Reparem bem no discurso das grávidas. Antes da gravidez, só falam em amor, love, love, love. Mal engravidam, tunga, o discurso vira logo, assim, abruptamente do nada. Os pensamentos, os desejos, as atitudes do dia a dia, os sonhos, os pequenos aís e uis são canalizados para o bébé que aí vem. Falam, vivem, pensam, sentem em função do futuro rebento, desse bébé que ainda não nasceu, por isso, imagina-se o pior quando o rebento estiver cá fora!
Mas então, e o amor eterno e avassalador, aquele que nos tirava o sono, aquele que era o centro do nosso mundo e sem o qual não podíamos (sobre)viver? Cá dê? Evaporou-se? Passou para segundo plano?
Confesso que esta substituição de amores faz-me confusão. Muita. Egocêntrica e possessiva como eu sou, não sei se me apetece fazer "a troca". Acho que o primeiro amor preenche-me muito, demasiado e não sei se serei capaz de lidar com esta substituição de afectos, isto sendo a mais sincera deste mundo, e se calhar a mais básica também.
A verdade é que olho em meu redor e o que vejo é isto mesmo: uma substituição de amores. A história repete-se vezes sem fim: um homem e uma mulher apaixonam-se, sonham de imediato em ter o (seu) rebento, aquele que será fruto do seu amor, mas mal chega o rebento, esse amor originário deixa de fazer (tanto) sentido.
Será que alguém me pode deixar aqui um relato mais equilibrado da coisa? Adorova. Sinceramente para poder ter assim uma pequena esperança.
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