Ontem tive uma experiência nova.
Não se trata seguramente de uma experiência nova para a natureza humana, mas para mim foi.
Pois, mas então que experiência foi essa? Pois eu respondo: ontem fui presenteada pela magia do afecto. Passo a explicar.
Todos nós vivemos em sociedade e somos, desde muito novos, iniciados na aprendizagem da vida em sociedade, e essa aprendizagem passa pela assimilação de conceitos que regem a nossa vida em sociedade, e que nos permite arrumar tudo dentro de caixinhas.
Sendo assim, somos ensinados ou mesmo domesticados a amar o nosso cônjuge para todo o sempre, somos ensinados a confiar apenas no pai, na mãe, no irmão e pouco mais. Na verdade, somos ensinados a respeitar dogmas, sejam eles sociais, religiosos ou científicos.
Em consequência dessa arrumação milimétrica da vida social, todo e qualquer facto social digno desse nome, raciocínio ou sentimento que saia fora desta tabuada social é conotado como sendo probido, pecaminoso, ou mesmo anormal.
Claro que, se a regra da normalidade existe, rapidamente o homem sábio engendrou uma panóplia de explicações, não menos certeiras, para essas mesmas anormalidades. Como tal, quem amar uma pessoa estranha, é porque é carente; quem se divorciar é porque é herege e quem desafiar as leis da ciência é porque é louco. Simples não? O único ponto em comum entre todas estas situações é que os autores dos desvios merecem todos sem excepção a fogueira ou o inferno. Venha o diabo e escolha (já agora).
Ora bem, eu, na minha curta vida, posso dizer que já fui carente, herege e louca: já amei quem não me não era nada, já me divorciei e tenho por hábito desafiar os dogmas da ciência. Não sei se por teimosia, por espírito de contradicção ou por burrice (também tenho de admitir esta hipótese).
Não sei se esta postura faz de mim uma heroína, ou uma pessoa parva, a verdade é que viver à margem da sociedade atrai tanto de admiração como de inveja, ou seja, não é propriamente o céu na terra.
Mas ontem, foi diferente: ontem eu fui a estranha, em terreno hostil, a ser adoptada num simples toque de magia. Ontem eu vivi, experimentei um ambiente onde o afecto existe, simplesmente. Ponto. Chega a ser estranho de tão simples que é.
Ontem fiquei estupefacta porque fui recebida de braços abertos por miúdos, miúdos estes que não me são nada, e que teriam alguma razão para não gostarem de mim.
Foram esses mesmos miúdos que me receberam com toda a educação deste mundo, sem artificialidades ou rodeios. Fizeram-no com total naturalidade e isto porque dentro daquelas cabeças e daqueles corações, não existem dogmas ou regras, mas sim afecto e a linguagem do afecto não conhece preconceito nem cálculo. Limita-se a existir, num puro toque de magia. E a isto eu chamo A-M-O-R.
Saí de lá um pouco atordoada, confesso, mas satisfeita por ter sido presenteada com tamanha oferenda no dia da passagem de ano.
Saí de lá super orgulhosa por saber que ainda há miúdos assim, e pessoas adultas capazes de ensinar essa linguagem a crianças feitas pessoas, mesmo e sobretudo na adversidade.
Ontem tive mesmo uma experiência nova....
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