6 de abril de 2010

Dor Emocional


Quando passamos por momentos de dor intensa e profunda, fica aquilo a que vulgarmente chamamos de “ferida”.
Esta ferida está lá porque algo nos atingiu por dentro e sangrou.
Intuitivamente, lambemos essa ferida, damos-lhe atenção.
Procuramos conhecer "o estado" da ferida de modo a identificar correctamente o produto desinfectante a utilizar e para saber a que profundidade descer para que o pus ou a infecção fique definitivamente sanada.
Na verdade, fazemos tudo isto de modo instintivo e mecânico porque foi assim que nos ensinaram e porque uma ferida numa pele sã é uma banalidade.
Por outro lado, temos perfeita consciência de que queremos que a ferida sare. Queremos que uma nova pele nasça no seu lugar, para que ninguém se aperceba que, um dia, uma ferida ali se alojou.
Todo este processo é relativamente simples quando se trata de uma dor física.
O desafio é bem mais audacioso quando se trata de uma dor emocional. Nessas alturas fazemos o processo contrário: alimentamos a ferida, escondemo-la para que ninguém note que ela existe. Convencemos os outros e a nós mesmos de que não estamos em sofrimento. Fingimos uma sanidade mental, que desconhecemos, e um equilíbrio emocional que nunca saboreamos:tudo isto para o bem da sociedade, poupando os outros e agredindo-nos a nós.
Fingimos um sorriso, uma boa disposição, mostramos uma força que não existe verdadeiramente e no final, chegados a casa, voltamo-nos para a dor, cavamos mais um pouco na ferida, mexemos lá com os pensamentos sujos e infectos.
Entramos neste ciclo vicioso sem nunca limpar a ferida, sem nunca enfrentar o cheiro do pus que teme em crescer porque o alimentamos pela força do pensamento.
Fazemos tudo isto porque nunca ninguém nos ensinou a lidar com a dor emocional como quem lida com a dor física: de frente e com naturalidade.
As “feridas emocionais” constituem hoje um estigma social porque “amar” é cada vez mais um acto de “auto-beatificação” com que os pobres de espírito alimentam a sua alma sem nunca dar nada em troca, mas apontando sempre do dedo para a ferida do lado.

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