Quando me divorciei decidi que iria ser nómada por uns tempos. No início foi por necessidade de sobrevivência, mais tarde virou um hábito imposto pelas circunstâncias exteriores, e hoje faz parte de mim. Quando mais o tempo passa, olho para trás como se de outra vida se tratasse, outra eu, outras pessoas à minha volta, outra visão da vida onde uma vida com hábitos, regras e formalidades deixa-me em pânico. A dor da perda e a vivência do vazio foram vividos com tamanha intensidade que hoje tudo que possa inspirar estabilidade causa-me arrepios. E isto porque esse sentimento já foi vivido com tamanha certeza e foi derrubado com tamanha violência que, para mim, a vida acontece apenas todos os dias, desde as pequenas coisas às grandes revoluções. Passei a não temer as grandes mudanças, mas deixei de as planear ao milímetro. Penso nelas, mas não as desejo como se fossem o fim último. Para mim, elas são apenas o culminar de uma transformação e de uma realização que se quis lenta, e progressiva. Odeio que me imponham metas porque temo sempre o vazio que se segue às mesmas. Daí eu adiar sempre o fim das tarefas agradáveis que me dão para fazer. Temo sempre o day after. Temo que nesse dia, eu não me reencontre ou não encontre o sentido à vida. Porém, no fundo, sei que desejo (voltar a) ter certezas e que elas me fazem feliz porque balizam o meu ego no campo da estabilidade e me dão a segurança que necessito. Esta é a contradicção lógica de quem já perdeu muito, e de quem não quer voltar a perder de novo mas deseja que tudo faça sentido de novo como se de uma tábua rasa se tratasse, desejando, acima de tudo, que o passado não volte nunca mais.
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