28 de fevereiro de 2011

Nómada em estado puro

Quando me divorciei decidi que iria ser nómada por uns tempos. No início foi por necessidade de sobrevivência, mais tarde virou um hábito imposto pelas circunstâncias exteriores, e hoje faz parte de mim. Quando mais o tempo passa, olho para trás como se de outra vida se tratasse, outra eu, outras pessoas à minha volta, outra visão da vida onde uma vida com hábitos, regras e formalidades deixa-me em pânico. A dor da perda e a vivência do vazio foram vividos com tamanha intensidade que hoje tudo que possa inspirar estabilidade causa-me arrepios. E isto porque esse sentimento já foi vivido com tamanha certeza e foi derrubado com tamanha violência que, para mim, a vida acontece apenas todos os dias, desde as pequenas coisas às grandes revoluções. Passei a não temer as grandes mudanças, mas deixei de as planear ao milímetro. Penso nelas, mas não as desejo como se fossem o fim último. Para mim, elas são apenas o culminar de uma transformação e de uma realização que se quis lenta, e progressiva. Odeio que me imponham metas porque temo sempre o vazio que se segue às mesmas. Daí eu adiar sempre o fim das tarefas agradáveis que me dão para fazer. Temo sempre o day after. Temo que nesse dia, eu não me reencontre ou não encontre o sentido à vida. Porém, no fundo, sei que desejo (voltar a) ter certezas e que elas me fazem feliz porque balizam o meu ego no campo da estabilidade e me dão a segurança que necessito. Esta é a contradicção lógica de quem já perdeu muito, e de quem não quer voltar a perder de novo mas deseja que tudo faça sentido de novo como se de uma tábua rasa se tratasse, desejando, acima de tudo, que o passado não volte nunca mais.

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